TRABALHO DE POETA
Abrir com as próprias mãos
os olhos da manhã
para que os pássaros
possam ser vistos,
e as janelas
se ascendam para outras
luzes.
Procurar embaixo das mangueiras
as extraviadas cartas
enviadas a si mesmo,
e deixar a chuva descer
sobre os guarda-chuvas
e a terra amarga.
Não incomodar mesmo
a chuva, deixar que ela cante
sua profecia de água
e assim acalante os nascentes
pulsos do poeta.
Escrever a palavra amor
e buscar compreender
o que se escreve.
Envelhecer podando
o pequeno jardim,
controlando as obstinadas
formigas e outras pragas.
Consentir que a morte seja
contínua, como a chuva,
e ler, em cada lembrança,
a presença alegre
de um futuro.
_________________
Túlio Stafuzza
Livro dos pássaros
Nenhum comentário:
Postar um comentário