quarta-feira, 24 de abril de 2024

Márcia Wayna Kambeba

 UNIÃO DOS POVOS

Nós, povos indígenas
Habitantes do solo sagrado
Mesmo sem nossa aldeia
Somos herdeiros de um passado.

Buscamos manter a cultura
Vivendo com dignidade
Exigimos nosso respeito
Também vivendo na cidade.

Somos parte de uma história
Temos uma missão a cumprir
De garantir aos tanu muariry
Sua memória, seu porvir.

Vivendo na rytama do branco
Minha uka se modificou
Mas a nossa luta por respeito
Essa, ainda não terminou.

Pela defesa do que é nosso
Todos os povos devem se unir
Relembrando a bravura
Dos Kambeba, dos Macuxi
Dos Tembé e dos Kocama
Dos valentes Tupi-Guarani.

Assim, os povos da Amazônia
Em uma grande celebração
Dançam o orgulho de serem
Representantes de uma nação
Com seu canto vêm dizer:
Formamos uma aldeia de irmãos.
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Márcia Wayna Kambeba
Ay kakyri tama - Eu moro na cidade

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Edimilson de Almeida Pereira

OFÍCIO

Tatear a origem
é iludir-se. 

O escrito, à mercê
do que foi dito,
inaugura outro país. 

O que se dá nos mapas
em forma
de província, urbe
& melhorias 

não é senão um caco
de palavra. 

A origem ressona
grave,
sem nação ou pacto.
Há quem a leve 

no bolso, em crimes
que nos deserdam. 

Outros a curtem sob a
forma de bois de aluguel.
Ou a costuram em óleos
santos.
 
Mas há os ferinos e seu
humour
que tira o minério
das conchas.
Por eles a origem despista
rendas, misérias
e outros benefícios.

Pela origem
somos-não-somos.
Espécie que escreve
para esquecer.
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Edimilson de Almeida Pereira
qvasi

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Adília Lopes

ARTE POÉTICA

escrever um poema
é como apanhar um peixe
com as mãos
nunca pesquei assim um peixe
mas posso falar assim
sei que nem tudo o que vem às mãos
é peixe
o peixe debate-se
tenta escapar-se
escapa-se
eu persisto
luto corpo a corpo
com o peixe
ou morremos os dois
ou nos salvamos os dois
tenho de estar atenta
tenho medo de não chegar ao fim
é uma questão de vida ou de morte
quando chego ao fim
descubro que precisei de apanhar o peixe
para me livrar do peixe
livro-me do peixe com o alívio
que não sei dizer
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Adília Lopes
Um jogo bastante perigoso

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Ricardo Aleixo

QUERIDOS DIAS DIFÍCEIS

Queridos dias difíceis,
acho que já deu – embora

eu considere prematuro
um definitivo adeus.

Querendo, voltem. Minha
casa é de vocês. Agora,

pensem bem se será mesmo
saudável nos testarmos em

novos convívios tão longos
(também não sou fácil) como

foi desta vez. Menos mal se
vierem em grupos – tantos,

em tais e tais períodos do mês.
Topam correr o risco? Vão resistir

até o fim? Podem vir, eu insisto.
Mas contem primeiro até três.
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Ricardo Aleixo
pesado demais para a ventania