quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Ferreira Gullar

 ANO NOVO

Meia-noite. Fim
de um ano, início
de outro. Olho o céu:
nenhum indício.

Olho o céu:
o abismo vence o
olhar. O mesmo
espantoso silêncio

da Via-Láctea feito
um ectoplasma
sobre a minha cabeça:
nada ali indica
que um ano novo começa.

E não começa
nem no céu nem no chão
do planeta:
começa no coração.

Começa como a esperança
de vida melhor
que entre os astros
não se escuta
nem se vê
nem pode haver:
que isso é coisa de homem
esse bicho
             estelar
            que sonha
            (e luta).
________________________
Ferreira Gullar
Do livro "Barulhos" in Toda poesia


Para Marina, 
que não desiste da poesia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário