Só de sol a minha casa
A Adélia Prado, com licença, que também sou mineira
Durante muito tempo,
também tive um sol
a inundar a nossa casa inteira,
tal a pequenez do cômodo.
Pelas fendas do machucado zinco,
folhas escaldantes de nosso teto,
invasivos raios confrontavam
pontos de mil quenturas,
onde jorrantes jatos de fogo
abrasavam o vazio
de um estorricado chão.
Em dias de maior ardência,
minha mãe alquebrava
seu milenar e profundo cansaço
no recorte disforme de um buraco
- janela sem janela –
acontecido no centro de uma frágil parede.
(rota de fuga de uma presa a inventar
extensão de um prado)
Eu não sei por quê, ela olhava o tempo
e nos chamava para perscrutar
em que lugar morava a esperança.
Olhávamos.
Salvou-nos a obediência.
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Conceição Evaristo
Poemas da recordação e outros movimentos
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