DESPEDIDAS
Começo a olhar as coisas
como quem, se despedindo, se surpreende
com a singularidade
que cada coisa tem
de ser e estar.
Um beija-flor no entardecer desta montanha
a meio metro de mim, tão íntimo,
essas flores às quatro horas da tarde, tão cúmplices,
a umidade da grama na sola dos pés, as estrelas
daqui a pouco, que intimidade tenho com as estrelas
quanto mais habito a noite!
Nada mais é gratuito, tudo é ritual.
Começo a amar as coisas
com o desprendimento que só têm
os que amando tudo o que perderam
já não mentem.
***
MORRER DE AMOR
Não posso dizer ao meu amor
que comigo escolheu viver:
- pare de morrer.
Nem um nem outro pode
parar de envelhecer .
Advirto aos incautos:
- não há nada de mórbido neste assunto.
Estamos apenas
morrendo de amor
- juntos.
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Affonso Romano de Sant'anna
Poesia Reunida - volume 2 (1965 - 1999)
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