A Onça
Viver
é também sobreviver.
E o alimento,
variável.
O que há de mais selvagem
no disparo do cavalo,
na voracidade da onça,
nas unhas do corvo
e no voo do pássaro sobre o abismo?
É que agora,
o animal quer falar
Ela ruge.
Ele rosna,
e só querem falar.
Quando amam,
parece que querem falar
mais ainda.
E morre-se
tantas vezes.
Se se ofendem,
eles precisam falar.
Ela esturra,
ele uiva,
eles se arranham
até cravar os dentes
no casco das palavras.
Bêbados de sol,
ávidos de lua,
caçam com o ouvido
a carne.
Não é o difícil o último rebelde?
Esses animais melânicos
já sofreram mutações.
Por isso surgem na luz
como vestígios da noite.
E esse poder muscular
de rasgar o vento quando encontram a presa
divide ao meio uma floresta.
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Paula Vaz
O Reino animal da poesia
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